sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O CRENTE PODE PERDER A SALVAÇÃO?

INTRODUÇÃO

A resposta não é fácil nem simples, para começar. Podemos polemizar por vaidade ou por necessidade. Espero que a minha motivação seja esta última. Alguns até dizem hoje que não devemos polemizar, pois é falta de amor, é pecar contra a unidade da igreja. Será? E o que dizer de Paulo? “E Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles(os judeus); e por três sábados DISPUTOU com eles sobre as Escrituras.” (At.17:2). E ainda “Porque há muitos desordenados, faladores, vãos e enganadores, principalmente os da circuncisão, aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras ensinando o que não convém, por torpe ganância.” (Tt.1:10,11). Parece que Paulo não pensava assim.

1. O JUÍZO TEMPORAL DE DEUS
Este é o castigo ou disciplina de Deus, agindo como juiz ou como pai, sobre crentes ou descrentes. “Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para a morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para a morte. Há pecado para a morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniqüidade é pecado, e há pecado que não é para a morte.” (I Jo. 5:16,17). É claro que esta morte de que fala o texto, não é morte espiritual, mas morte física. É o mesmo caso de I Co. 5:5, texto conhecido como o “incestuoso de Corinto”: “Seja entregue a Satanás para a destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus.” Nem todo pecado tem como pena a morte, pois mediante a confissão e oração de outro crente (preferentemente seu líder), haverá perdão. “E a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros, e orai uns pelos outros, para que sareis.” Portanto, essa idéia de dizer que todos os pecados são iguais, não é verdadeira. Há pecados mais graves e menos graves, e conforme for, a pena pode ser de morte, ou outra qualquer, como em I Co. 11:30 “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.

Em Ezequiel 3:16-21 tem um texto interessante, que pode ser juízo temporal, mas é um princípio que se aplica à morte espiritual. Deus diz ao profeta Ezequiel: 
Quando eu disser ao ímpio: certamente morrerás; e tu não o avisares, nem falares para avisar o ímpio acerca do seu mau caminho, para salvar a sua vida, aquele ímpio morrerá na sua iniqüidade, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau caminho, ele morrerá na sua iniqüidade, mas tu livraste a tua alma. Semelhantemente, quando o justo se desviar da sua justiça, e cometer a iniqüidade, e eu puser diante dele um tropeço, ele morrerá; porque tu não o avisaste do seu pecado, morrerá; e suas justiças, que tiver praticado, não serão lembradas, mas o seu sangue, da tua mão o requererei. Mas, avisando tu o justo, para que não peque, e ele não pecar, certamente viverá; porque foi avisado; e tu livraste a tua alma.” 
É muito parecido com a Grande Comissão em Marcos 16:15,16 “Ide por todo o mundo , pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” E esta palavra de Paulo em At. 20:26,27, aos presbíteros da igreja de Éfeso: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.” A salvação e sangue de Marcos e Atos, devem se referir à salvação eterna.


2. O JUSTO E O ÍMPIO

Quando lemos a Bíblia ou ouvimos o ensino e a pregação da mesma, podemos não atentar para diferença entre a palavra JUSTO e a palavra ÍMPIO. Era o que eu fazia até recentemente, quando o Espírito Santo me levou a entender a importância dessas duas palavras. Por exemplo, eu ouvia pregadores e crentes em geral dizerem: "nós somos pecadores”. Até lembro de um certo pregador que disse: ”nós, os crentes, somos pecadores, e as pessoas do mundo são ímpios”. Mas a palavra de Paulo em Rm.5:8,9 me deixava intrigado: “Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira.” Ou seja, antes de Cristo morrer por nós, éramos pecadores, mas depois, nos tornamos justos. Tanto a palavra pecador tem sinônimos, como a palavra justo. No salmo 1, as palavras pecadores, ímpios, escarnecedores, são sinônimos. Tem também injustos. Do outro lado, as palavras Santo, justo, e outras semelhantes se referem ao homem convertido. Na parábola das dez virgens, tem as cinco sensatas e as cinco loucas. São duas categorias de pessoas. Toda a humanidade está dividida entre essas duas categorias. Ou você é justo, ou você é pecador. Tem pecador religioso, dentro da igreja, como tem justo. E pode ter justo fora da igreja institucionalizada, embora, o normal é que o justo esteja dentro da igreja como corpo de Cristo. Então, o crente não é pecador, mas justo. Isto não quer dizer que o crente não peca, pois é certo que ainda peca. Mas o pecado na vida do crente, deve ser uma exceção, não a regra. “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um advogado para com o Pai, Jesus Cristo , o justo.” Muitos homens jogam futebol, mas não são jogadores profissionais, como Ronaldinho, Robinho, Messi, e outros. O crente peca ainda, mas é um perna-de-pau do pecado. O pecador é um profissional do pecado, é um craque do pecado, é da natureza dele pecar. Se o crente peca, sua consciência fica abrasada e não tem paz, enquanto não confessar pecado a alguém. Se alguém que se acha crente peca, e convive bem com o pecado, é possível que seja um pecador. Talvez ele mesmo não saiba.



3. O CRENTE PODE PERDER A SALVAÇÃO - Tg. 5:16-20.

a) “A oração feita por um JUSTO pode muito em seus efeitos” (V.16B).

Durante muito tempo eu também tive dificuldade de entender essa afirmação de Tiago. Até que este conceito sobre o justo e o ímpio me foi revelado. O conceito de justo na Bíblia é de alguém que foi justificado, e que pratica a justiça e o juízo:
Quando eu também disser ao ímpio: certamente morrerás; se ele se converter do seu pecado, e praticar juízo e justiça, restituindo esse ímpio o penhor, indenizando o que furtou, andando nos estatutos da vida, e não praticando iniqüidade, certamente viverá, não morrerá.” (Ez.33:14,15). 
O texto clássico da justificação pela fé já fala dessas duas operações, uma divina, e outra humana. A parte divina é a graça, mediante o arrependimento e a fé. A parte humana é praticar as boas obras já preparadas de antemão por Deus, porque a fé sem as obras é morta. 
 “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” 
 Não somos salvos pelas obras, mas para praticar as boas obras. As boas obras são a evidência de que fomos realmente salvos. Conforme o ensino de Tiago, as obras confirmam que a fé é verdadeira. Mas o que estamos querendo descobrir é se alguém que genuinamente se converteu, pode cair da graça. A apostasia tem duas faces: os que abandonam a fé e vão embora do convívio da igreja, e os que permanecem desviados dentro da igreja. Mas o caso é que a oração poderosa não é só de um profeta, como Elias, nem de um apóstolo como Paulo, mas de qualquer que for justo e não pecador, seja religioso ou mundano.

b)”Irmãos, se algum dentre vós...” (Tg.5:19) – Tiago está falando de um crente da igreja, supostamente justo, pois o mesmo se desviou da verdade. O desvio pode ser geográfico ou na conduta. Neste caso parece ter sido na conduta. Antes ele era convertido, mas deixou de ser convertido, aponto de precisar ser convertido de novo. Se ele não fosse convertido, não poderia ter se desviado da verdade. “Arrependei-vos , pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados...” (At.3:19).

c) “Saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um PECADOR, salvará da morte uma alma, e cobrirá uma multidão de pecados.” (Tg.5:20). Este “alguém” hipotético é chamado agora de pecador. Pecador, como já vimos não é justo, não é convertido. O verbo desviar indica sair de uma rota original. Tudo indica que esta pessoa era antes convertida, mas desviou-se, voltando à prática do pecado, e aí se tornando de novo pecador. Parece até jogador de futebol, que depois de abandonar o esporte, depois de vários anos, passa a ter saudade da torcida, dos gramados, do glamour, e volta a jogar. No começo está fora de forma, mas depois vai pegando jeito, até se tornar um craque de novo. Tem crente que já até havia deixado de ser um pecador contumaz. Mas sente saudade dos prazeres do mundo e da carne, e volta a praticá-los, até se to rnar de novo um craque na prática do pecado. E não adianta dizer que esta pessoa nunca foi crente, pois este argumento é uma simplificação, na verdade uma fuga de enfrentar um problema difícil. 
Jesus disse “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo”(Mt.24:13). Mas alguns dizem que todo aquele que é salvo já trás a perseverança embutida no pacote. Essa doutrina chama-se A Perseverança dos Salvos. Mas a fórmula de Jesus é: 1. CRER; 2. PERSEVERAR; 3. SER SALVO= FÉ, PERSEVERANÇA. SALVAÇÃO. A outra fórmula inverte as palavras de Jesus e diz: 1. CRER; 2. SER SALVO; PERSEVERAR= FÉ, SALVAÇÃO, PERSEVERANÇA. Não preciso dizer que é um perigo inverter as palavras da Escritura. Até a ordem em que aparecem as palavras tem uma razão de ser. Até o diabo sabe que o crente pode perder a salvação. É por isso que o diabo até a hora da morte do crente, luta para fazê-lo apostatar. Aí está uma boa notícia. O diabo não está interessado em matar você. Ele quer tentá-lo até você blasfemar contra Deus. Eu disse blasfemar, por que o pecado de blasfêmia é o que pode colocar você em maus lençóis com Deus. Toda a luta de Satanás contra Jó era para fazê-lo blasfemar. E até Saulo, quando estava sendo usado pelo diabo fazia isto. “E, castigando-os muitas vezes por todas as sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui.” (At.26:11). Em Ex. 32:32, quando Moisés intercede por Israel, Ele diz a Deus: ”Agora, pois, perdoa o seu pecado, se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito. Então disse o Senhor a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro.” E em Apocalipse 3:5 “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida.” É melhor ter cuidado para que o seu nome não seja riscado do livro da vida. “Uma vez salvo, sempre salvo” é uma doutrina questionável e perigosa.


CONCLUSÃO

Agora, irmãos, eu creio que os que ensinam de maneira contrária a esta, estão procurando dar segurança aos seus discípulos, de maneira que eles não vivam atemorizados, com medo de perder a salvação. Mas também tem o perigo de mantê-los confiando numa falsa segurança. Eu creio que é melhor se questionar agora do que no dia final. Agora ainda tem tempo de se consertar, mas no dia final não haverá mais tempo. Paulo não tinha medo de provocar insegurança na igreja de Corinto, pois escreveu: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não sabeis quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados.” E ainda “E, sendo ele (Jesus) consumado, veio a ser a causa da eterna salvação para todos os lhe obedecem.”(Hb.5:9). A fé que salva é a fé que obedece. A expressão “obediência da fé” está duas vezes em romanos. (Rm. 1:5; 16:26).

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