quinta-feira, 19 de março de 2015

A OBSESSÃO POR CRESCIMENTO


OBSESSÃO, s.f. Importunação; inpertinência; perseguição: vexação; (fig.) idéia fixa; preocupação contínua. (Do lat. Obsessione.)

Tenho lido e ouvido, de várias fontes diferentes, que a igreja brasileira está com uma série de problemas, e que não está traduzindo para a nação, a influência positiva de alegados 50.000.000 (cinqüenta milhões) de evangélicos, e que não está sendo sal nem luz, no Brasil. Como evangélico brasileiro, eu me pergunto, onde foi que erramos? II Cr. 7:14 diz:
” Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra.” 
A chave desse texto é “se converter dos seus maus caminhos”, que Deus chama de “pecados” (perdoarei os seus pecados). Isto foi escrito para a nação de Israel, num determinado contexto, mas pode ser aplicado à igreja, já que esta é o povo de Deus, no N.T., “povo de propriedade exclusiva de Deus” (I Pd. 2:9). Quais são os maus caminhos, pecados, da igreja brasileira? Temos de saber, pois não podemos nos converter dos nossos maus  caminhos, se não soubermos quais são. Pode ser que tenha muitos outros maus caminhos, mas quero compartilhar um, que pode ser um equívoco, mas de boas intenções...

De repente, começou um frenesi por crescimento, que se tornou uma febre, uma verdadeira obsessão. Foram estabelecidas metas para crescimento, e pastores que não conseguem crescer a sua igreja, ficam envergonhados, e são acusados de estarem em pecado. Vamos deixar claro uma coisa: o crescimento é bom, e Deus quer o crescimento. Na verdade, a ênfase maior da Bíblia é na multiplicação, que é para os lados, e o crescimento é mais para cima, como na torre de Babel. 

Só que, como geralmente acontece, temos de fazer a obra de Deus, da maneira de Deus, do contrário, se fizermos da nossa maneira, é desobediência, e Deus não vai aceitar. Deus quer o crescimento e a multiplicação, mas da maneira dele, e essa maneira está na Escritura. Observei que no N.T. não há nenhuma cobrança aos líderes, nem à igreja, sobre o crescimento ou a multiplicação. Mas há muita cobrança, tanto para os líderes, quanto para a igreja, da qualidade de vida cristã, que se está vivendo. Para os líderes, a primeira qualidade é que sejam “irrepreensíveis” (I Tm. 3:2 e Tt. 1:6) e para a igreja é que sejam “santos” “sede santos, porque eu sou santo” (I Pd. 1:16), e “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra...porquanto Deus não nos chamou para a impureza, e sim para a santificação.” (I Ts. 4:3,4,7). 

Até mesmo os textos que falam de crescimento ou de multiplicação, não atribuem responsabilidade direta, nem o mérito direto, ao homem, mas a uma ação de Deus. Em Atos 2:47b “Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.” A expressão “enquanto isso” dá a entender que a igreja fazia uma coisa num lugar, e Deus fazia outra coisa, em outro. É como se Deus dissesse “cuida das minhas coisas, que eu cuido da tuas”.  Ou seja, a responsabilidade do homem é obedecer ao que Deus mandou, e o resultado é da responsabilidade de Deus. At. 2:42-47 mostra o estilo de vida da igreja primitiva. Esta era a responsabilidade deles. E como eles estavam vivendo da maneira que Deus mandou, Deus mesmo produzia o crescimento. Isto é fé. E Deus está no controle, e mantém a sua soberania. No momento em que a responsabilidade do crescimento passa para a mão do homem, ele descarta as ordens de Deus,e passa a adotar sua própria estratégia, que é geralmente botando pressão em quem está abaixo dele,na hierarquia da igreja. 

Isto tem gerado stress e opressão sobre o povo de Deus. É pressão que deve ser colocada é para que todos sejam santos, é a qualidade, e não a quantidade. Esta obsessão por crescimento tem produzido algumas conseqüências, quais sejam: 
1. Tornou larga a porta da salvação, facilitando o acesso das pessoas à igreja, diluindo o Evangelho, a tornando a igreja parecida com o mundo, a fim de que os pecadores possam se sentir à vontade nela, contrariando o ensino de Jesus em Mt.7:13 e 14; 2. Comprometeu a qualidade em favor da quantidade, e adotou a filosofia de que os fins justificam os meios, e pode estar enchendo a igreja de pessoas não convertidas, como aconteceu na época do imperador Constantino -325 d.C. – quando os pagão foram batizados em grande número, e tudo indica que a motivação do rei era política; 3. Tirou a soberania das mãos de Deus, pois já que é o homem quem produz o crescimento, a glória também é dele, e não de Deus. Jesus deu três ordens à igreja, na Grande Comissão, por meio dos apóstolos: 1. Ide por todo o mundo; 2. Pregai o Evangelho a toda criatura; 3. Fazei discípulos de todas as nações. Nós podemos ter falhado aqui, na primeira ordem de Jesus. Em vez de ir por todo o mundo, nós ficamos aqui mesmo, disputando para ver quem crescia mais, e adotamos uma coisa chamada de Redenção da nação. Jesus não mandou fazer a redenção da nação. A redenção das nações, inclusive de Israel,  só acontecerá quando Jesus voltar. Ir por todo o mundo é a obra missionária transcultural, aos povos não alcançados, e não ficar aqui tentando fazer a redenção da nação. A segunda ordem, depende da primeira, pois para pregar o Evangelho a toda a criatura, temos de ir por todo o mundo. Observe que se obedecemos as duas primeiras ordens de Jesus, isto ainda não garante o crescimento, pois podemos ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura, e ninguém se converter, pois a conversão não é o homem quem produz, mas o espírito Santo.”Quando Ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo.16:8). A terceira ordem de Jesus depende das duas primeiras, pois para fazer discípulos de todas as nações, temos de ir a elas, e pregar-lhes o Evangelho. 

Fazer discípulo não envolve o conceito de quantidade, mas de qualidade, pois só podemos discipular se Deus converter alguém. Assim como um casal não pode gerar um filho, mesmo que faça tudo o que deve, pois o nascimento de uma pessoa é um milagre de Deus, haja vista, o caso de Abraão e Sara. Só tiveram um filho quando Deus decidiu dar-lhes. Todavia, uma vez que o menino nasceu, é da responsabilidade do casal educá-lo. A igreja só pode discipular as pessoas que o Espírito Santo converter. Porém, temos visto que famílias estão educando mal os seus filhos, por adotarem as filosofias e psicologias mundanas, seculares, e anti-cristãs, desprezando a milenar orientação da Bíblia, e formando uma geração de pessoas, cada vez mais ímpias. Assim também a igreja pode discipular os que são convertidos, de uma maneira diferente daquela que a Bíblia orienta. Será que a igreja brasileira tem caído nesses maus caminhos? Se for o caso, temos de nos arrepender, e deixar os nossos maus caminhos, para que Deus ouça dos céus, perdoe os nossos pecados, e sare a nossa terra. 

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