terça-feira, 11 de maio de 2010

A TRINDADE NA CABANA

O livro A Cabana, de William P. Young, tem se tornado a sensação do momento, até mesmo, ou talvez, principalmente, para a igreja. A questão é que o livro aborda temas teológicos, e o autor, ainda que bem-intencionado, não pode deixar de passar pelo crivo da Escritura. A grande questão que o livro trata é sobre a doutrina da Trindade, que sempre foi um tema controvertido no seio da igreja, e até hoje, mal-entendido. O grande tema da Reforma Protestante, do Século Dezesseis, era Sola Scriptura. Qualquer assunto de cunho teológico deveria ser provado pela Escritura. A maneira como A Cabana apresenta a trindade tem provocado suspiros de alguns evangélicos, dizendo que nunca tinham pensado em Deus daquela maneira. O autor, na página 111, coloca na boca de Sarayu (O Espírito Santo), as seguintes palavras: 
                            
“Mackenzie, não existe conceito de autoridade superior entre nós,   apenas de unidade. Estamos num círculo de relacionamento e não numa cadeia de comando. O que você está vendo aqui é um relacionamento sem qualquer camada de poder. Não precisamos exercer poder um sobre o outro porque sempre estamos procurando o melhor. A hierarquia não faria sentido entre nós. Na verdade, isso é um problema de vocês, não nosso.”

Vamos analisar esse conceito, tomando como base a Escritura. No jardim do Éden, Deus disse para Adão: “De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gn.2:16,17). Satanás, incorporado na serpente, disse à mulher: "Certamente não morrereis." Essa foi a estratégia para induzir o homem a desobedecer a Deus, causa de todo o sofrimento que acontece no mundo hoje. Está estabelecido um princípio. A função de Satanás é enganar o homem, ensinando coisas contrárias ao que Deus disse. A Escritura é a Palavra de Deus, e precisamos aferir a verdade por meio dela, para não sermos enganados por uma criatura que é mestre do engano, e que sabe muito bem como sensibilizar nossos sentimentos e emoções.

A Cabana diz que não existe conceito de autoridade nem hierarquia na Trindade. Vejamos se esse ensino procede, e tem base na escritura. Primeiro vamos estabelecer o conceito de Autoridade e Poder, termos amplamente usados na Escritura. Poder é Dínamis, no grego Koinê, do Novo Testamento. É daí que vem a palavra dinamite. Poder é a capacidade de fazer algo, tanto para construir, como para destruir. Autoridade é Exousia, no grego Koinê, do Novo Testamento. Autoridade é o direito de mandar e ser obedecido. Por exemplo: O juiz tem autoridade para mandar prender os criminosos, e a polícia tem o poder. O poder é de fato, a autoridade é de direito. Deus é realmente uma trindade, e a Teologia desde os primeiros séculos da era da igreja já definiu a Trindade como três pessoas distintas. Distintas significa que uma não é a outra. O Pai, O Filho, e O Espírito Santo, são iguais em poder, mas não em autoridade. A autoridade é uma co nvenção. Foi convencionado por Eles que o Pai seria o Presidente, o Filho, vice Presidente, e o Espírito Santo o segundo vice Presidente. O sistema militar oferece um exemplo perfeito. Peguemos três homens. Enquanto homens, eles são iguais. Mas convencionou-se que um será Coronel, o outro, eTenente-Coronel, e o outro Major. Enquanto homens eles têm o mesmo poder, mas um tem mais autoridade do que o outro, isto é, o direito de mandar e ser obedecido.

Em João 13:16 Jesus diz “Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.” O servo está para o seu senhor, assim como o enviado está para aquele que o enviou. Você nunca vai achar na Bíblia que o Filho enviou o Pai, mas vai achar que o Pai enviou o Filho, Jesus. “Mas, vindo a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei.” (Gl.4:4). Em João 14:28b Jesus diz “porque o Pai é maior do eu.” Em João 15:26 Jesus diz “Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele testificará de mim.” E em João 16:7b Jesus diz “porque se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vô-lo enviarei.” No Antigo Testamento Deus , o Pai, cujo nome é Iavé, enviava os profetas. “Porquanto não deram ouvidos às minhas palavras, diz Iavé, mandando- lhes eu os meus servos, os profetas, madrugando e enviando.” (Jr.29:19). No Novo Testamento, Jesus envia os apóstolos. “Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.” (João 20:21). E em At. 13:4 “E assim estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.” Há hierarquia na Trindade. Aliás, em tudo o que Deus criou tem hierarquia. 

O ensino de A Cabana sobre a Trindade parece inocente, mas não é, pois ataca o princípio da autoridade, que é uma das bases do trono de Deus. Toda a autoridade do universo deriva do trono de Deus, sendo delegada por Ele. Qualquer desacato à autoridade em qualquer nível, é uma afronta a Deus. A unidade da Trindade consiste em que não há qualquer discordância entre eles. Estão sempre de acordo. Mas Satanás gosta de dizer o que o coração humano gostaria de ouvir. Que não há autoridade, nem hierarquia. Eu não preciso obedecer a ninguém, nem me subordinar a ninguém. A ausência de autoridade chama-se Anarquia.

Um comentário:

Lauro Cézar disse...

maravilhosa reflexão sobre os textos, no mundo que tem perdido o sentido de autoridade a igreja parece retrograda por lutar por esse princípio espiritual