quinta-feira, 24 de novembro de 2011

AUTORIDADE DELEGADA


O rei Assuero (Xerxes) era o mandatário da época, e sua autoridade delegada por Deus, de onde emana toda a autoridade do universo. Assuero era o rei da Pérsia e o seu seu reino ia da Índia até à Etiópia. Haman, filho de Hamedata, o agagita, era, provavelmente, descendente de Agague, rei dos amalequitas, que Saul deixara viver, contrariando ordens expressas de Deus, através do profeta Samuel. Mardoqueu, o judeu, era primo da rainha Ester, e o povo judeu estava espalhado por todo o reino de Assuero. 

O capítulo três do livro de Ester nos informa que Haman foi exaltado acima de todos os príncipes, por vontade do rei Assuero. Jesus disse que todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e que todo aquele que se humilhar será exaltado. Pelo visto a iniciativa de exaltar Haman não foi dele mesmo, mas do rei. 

Salomão diz, no livro de Provérbios, que o coração do rei está na mão do Senhor, que o inclina para onde quer. Podemos concluir que foi da vontade d e Deus exaltar Haman, por meio do rei Assuero. Por causa dessa exaltação todos os servos do rei se inclinavam e se prostravam diante de Haman. Mas Mardoqueu não se inclinava nem se prostrava. Podemos até entender os sentimentos de Mardoqueu em relação a Haman, pois Amaleque sempre foi inimigo do povo judeu. Mas quando tratamos com a questão da autoridade, não podemos ser sentimentais, mas friamente racionais. Deus é muito paciente e não nos pune sem primeiro nos dar oportunidade de arrependimento. Creio que foi Deus quem levou os servos do rei a advertirem repetidamente a Mardoqueu de seu comportamento afrontoso. Salomão também diz, no livro de Provérbios, que o homem que é repreendido muitas vezes sem se consertar, será punido de repente, sem que haja cura. Mardoqueu se obstinou na sua rebeldia, e não deu ouvidos aos conselhos.

Até então Haman não sabia do comportamento de Mardoqueu. Era Deus lhe dando oportunidade de arrependimento. Mas como ele se obstinou, os servos fizeram saber a Haman, para ver se a conduta de Mardoqueu seria tolerada. É claro que Haman tambem estava na prova, pois poderia ter deixado passar essa ofensa, mas no seu orgulho desenfreado, se encheu de furor, esquecendo que ele não era Deus. Cheio de ódio por Mardoqueu, Haman achou pouco matar somente o seu desafeto, mas decidiu matar todos os judeus, o povo de Mardoqueu. Haman conseguiu autorização do rei Assuero para emitir um decreto a fim mandar matar todos os judeus. O rei deu o seu anel sinete para Haman a fim que esse pudesse decretar a morte de todos os judeus. Haman escreveu as cartas e selou com o anel do rei, e as enviou por meio dos mensageiros do rei. Onde quer que as cartas chegavam havia entre os judeus luto, jejum, choro e lamentação. 

Essa situação me lembra duas outras, que passarei a comentar. A primeira é o caso de Adão, que por desobedecer a Deus, lançou um decreto de morte sobre toda a humanidade, pois "a alma que pecar, essa morrerá" e "o salário do pecado é a morte". Neste caso, Mardoqueu é um tipo de Adão. A segunda é o Holocausto nazista, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando Hitler mandou matar seis milhoes de judeus. Neste caso, não sabemos quem é o Mardoqueu da situaçao, mas sabemos que Hitler é o Hamã da história, porque "a maldição sem causa não encontra pouso". (Pv.26:2).

Qualquer ato de desonra contra a autoridade, tem a retribuição de Deus, quer diretamente,  quer por meio de terceiros, no exercício de sua soberania. A ofensa pode ser diretamente endereçada a Deus, ou pode ser dirigida contra um seu preposto, que é a autoridade delegada. O apóstolo Paulo diz que "tudo o que o homem semear isso também ceifará", seja para o bem, seja para o mal. 

Quando Mardoqueu ofendeu a autoridade de Hamã, este providenciou para que a retribuição lhe fosse feita. E assim como foi da vontade de Deus exaltar Haman, por meio do rei Assuero, foi também da vontade de Deus punir Mardoqueu, por meio de Haman. Podemos até dizer que foi Satanás quem armou para exterminar os judeus, usando como pretexto a rebeldia de Mardoqueu. Mas se acharmos que o diabo pode fazer o que quiser, atentamos contra a soberania de Deus, pois no caso de Jó, ele teve que pedir autorização a Deus, tanto para tocar nos seus bens, quanto para tocar em seu corpo. 

Vejamos estes dois textos, bem esclarecedores sobre este assunto. "Entao Satanás se levantou contra Israel e incitou Davi a numerar Israel." (I Cr. 21:1). "E a ira do Senhor se tornou a acender contra Israel, e ele incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai, numera a Israel e a  Judá." (II Sm. 24:1). Entao, quem induziu Davi a numerar o povo, foi Deus ou foi Satanás? 

Podemos responder que foram os dois, pois este não pode agir sem pedir autorização àquele. E Deus, como supremo juiz do universo, distribui justiça, retribuindo a cada un conforme as suas obras. Nem Davi nem o povo eram inocentes, pois o povo vivia praticando idolatria, quebrando o primeiro mandamento do Decálogo, como está escrito: "E os filhos de Israel fizeram o que parecia mal aos olhos do Senhor, e se esqueceram do Senhor, seu Deus, e serviram aos Baalins e a Asterote. Então a ira do Senhor se acendeu contra Israel...". (Jz.3:7,8). 

No caso de Davi, podemos deduzir que foi o orgulho de ser o rei de um grande e poderoso exército, que o levou a obedecer à sugestão de Satanás, e numerar o povo. Joabe ainda tentou demovê-lo de seu intento, mas Davi, como Mardoqueu, se obstinou. Nessa "brincadeira" foram mortos setenta mil homens do povo de Israel. No caso do Holocausto,foram seis milhões, na época de Mardoqueu, o objetivo era todo o povo, e no pecado de Adão, toda a raça humana.

Mas a recíproca é verdadeira, pois o mesmo Deus que pune, também recompensa. Assim como toda a rebeldia contra a autoridade é castigada, todo ato de respeito, de obediência, de honra, é recompensado por Deus, seja diretamente, seja por meio de sua autoridade delegada. 

O apóstolo Pedro fala disso, quando diz: "Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados PARA CASTIGO DOS MALFEITORES E PARA  LOUVOR DOS QUE FAZEM O BEM." (I Pd. 2:13,14).  Paulo também nos ensina algo, pois afirma "Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor." (Rm.12:19).  E  "porque é ministro de Deus e vingador para castigar o que faz o mal." (Rm. 13:4). Deus vinga por meio de seus prepostos. No caso, o magistrado aqui referido é o governante, pois a divisão tripartite dos poderes é uma coisa moderna, já que  os três poderes eram encarnados na pessoa do governante.

Para a felicidade de Mardoqueu, ele tinha crédito diante de Deus, pois  no caso dos dois eunucos, Bigtã e Teres (Et. 2:21-23), que conspiraram para assassinar o rei assuero, Mardoqueu agiu de conformidade com a autoridade. De fato, quem pisou na bola, neste caso, foram os dois eunucos, pois eram oficiais encarregados de guardarem as portas, com a precípua  finalidade de impedirem qualquer atentado contra a vida do rei. Mas prevaricaram, fazendo exatamente o que estavam obrigados de impedir.

Desde que o pecado entrou na raça humana, o orgulho se instalou no coração do homem. Facilmente nos ofendemos em decorrência de alguma atitude mais contundente por parte de qualquer pessoa, mormente quando essa pessoa é  autoridade sobre nós. Em nosso coração, facilmente podemos dizer "Quem ele pensa que é?".  Foi o caso dos dois eunucos, que, para infelicidade deles, o caso chegou ao conhecimento de Mardoqueu, que o contou a Ester, e esta, ao rei, em nome de Mardoqueu. Bem que esta noticia poderia não ter vazado, e a conspiração poderia ter sido bem-sucedida, e o rei morto. Mas a justiça retributiva de Deus, como assaz acontece, cuidou para que Mardoqueu tomasse conhecimento, e os dois eunucos fossem punidos com a morte. 

Mardoqueu também foi provado, pois tinha o livre-arbítrio para ficar calado ou falar. Para o bem dele, desta vez ele ficou do lado da autoridade, e denunciou a conspiração. Paulo disse que tudo o que o homem semear, isso também ceifará. A semeadura de Mardoqueu desta vez foi boa, e no tempo certo, o tempo da colheita, ele recebeu a recompensa. O rei foi acometido de insônia, naquela noite  de sorte que não conseguia dormir(Es 6). Foi por providência divina, que o rei não conseguia dormir. Segundo os costumes da época, foi trazida à sua presença o livro das crônicas do seu reinado, e foi lido o que Mardoqueu havia feito no caso de Bigtã e Teres. O rei indagou se havia sido dada alguma recompensa a Mardoqueu, e resposta foi não. Foi também providência divina a aparente ingratidão do rei, na época da conspiração. Deus havia guardado a recompensa para ocasião oportuna. E esta havia chegado. Mardoqueu foi exaltado pela instrumentalidade do próprio Hamã, que foi humilhado, tendo de conduzir o cavalo, montado por Mardoqueu, ostentando uma coroa, e vestindo uma roupa do rei. Hamã ainda teve de declarar publicamente: "Assim se fará ao homem de cuja honra o rei se agrada!". O próprio rei, que havia entregue Mardoqueu e o seu povo, ao extermínio, pelas mãos de Hamã, agora exaltava Mardoqueu, pelas mãos do mesmo Hamã. Assim Deus exerce sua soberania, por meio da autoridade delegada, castigando os malfeitores e recompensando os que fazem o bem. (I Pe 2:14). No caso em questão, a intervenção divina foi potencializada por três dias de jejum, sem comer e sem beber, nem de dia nem de noite, por parte de Ester, Mardoqueu, e de todos os judeus de Susã, a capital.

Estamos vivendo numa época de quase anarquia, pois, há uma rejeição, quase generalizada, a todo e qualquer tipo de autoridade, seja na família, seja na escola, ou em qualquer  outra instituição. Mas os  princípios criados por Deus, para uma vida harmoniosa em sociedade, não mudaram e sua violação traz consequências  desastrosas para todos. "Sujeitai-vos, pois, a toda ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior; quer aos governadores, como por ele enviados...Vós servos (Oikétai, empregados), sujeitai-vos com  todo temor ao senhor (déspota), não somente ao bom e humano, mas também ao mau...Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao vosso próprio marido...Igualmentente vós, maridos, coabitai com ela com entendimento, dando honra à mulher..." (I Pd. 2:13,14,18; 3:1,7). Dependendo de como você responde a  esse ensinamento, você é recompensado ou castigado por Deus, seja diretamente, seja por meio de sua autoridade delegada.

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