segunda-feira, 30 de junho de 2014

SOTERIOLOGIA, A DOUTRINA DA SALVAÇÃO


Porque eu não tenho falado de mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, ele me deu mandamento sobre o que hei de dizer e sobre o que hei de falar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. Portanto, o que eu falo, falo como o Pai mo tem dito.” (João 12:49,50).

Diante do texto acima, eu quero falar sobre a doutrina da salvação, pois, lendo um livro sobre o assunto, vejo que não é um tema pacífico, mas existem muitos conceitos a respeito do mesmo, cada um afirmando que está baseado na Bíblia. Ao longo da minha vida cristã, a maior parte na Convenção Batista Brasileira, percebi que cada denominação ou seguimento da igreja evangélica, afirma que a Bíblia é sua regra de fé e prática. É assim, pelo menos, no seguimento chamado de  igrejas tradicionais. Na Igreja Católica, salvo engano, além da Bíblia, também tem a Tradição Eclesiástica (a interpretação dos seus teólogos ou a Patrística) tem peso de autoridade igual à escritura. No Movimento Pentecostal e no Neopentecostal,  (se eu estiver errado me corrijam) os pronunciamentos proféticos e outras revelações extra-bíblicas, têm também grande peso de autoridade. Mas com respeito à afirmação de que a Bíblia é a única regra de fé e prática, tenho percebido que dificilmente é verdade. Cada grupo adota como regra de fé e prática a sua própria tradição religiosa,  ignorando solenemente o que diz a Bíblia.

Voltando ao versículo do cabeçalho, Jesus afirma que o que ele falava era exatamente o que o Pai havia lhe mandado falar. Ele não se sentia com liberdade para mudar o que o Pai lhe tinha mandado falar. Do mesmo modo, nós também não temos esse direito de mudar as palavras que Jesus nos mandou falar.  É verdade que a interpretação da Bíblia não é fácil. Tem assuntos que são controversos, e temos de ter a humildade de reconhecer que podemos laborar em erro, e não assumir uma postura dogmática. Os nossos antepassados podem ter errado também na interpretação. Tem um autor que usa como referencial o Comitê de Lausane e os reformadores, com a sua Solla Scriptura. Mas nem os reformadores do século XVI  nem os signatários do Pacto de Lausane eram infalíveis na interpretação da Escritura. Eles fizeram o melhor que puderam no seu tempo e nós temos de fazer o melhor que pudermos no nosso.

Diante do exposto, quero olhar para a Escritura crendo que o mesmo Espírito que inspirou os nossos antepassados nos inspira, tentar descobrir o que é mesmo a doutrina da salvação. Quero começar com o Dia de Pentecoste. Depois do discurso de Pedro, o povo que o ouviu perguntou: “QUE FAREMOS, HOMENS IRMÃOS?” Respondendo Pedro disse:

1.       Arrependei-vos;
2. E cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados;
3. E recebereis o dom do Espírito Santo. (At.2:37,38).

 Em Atos 3:19, não consta nenhuma  pergunta do povo, mas a declaração de Pedro é semelhante a que foi dada em At. 2:38:
1.      Arrependei-vos; 
2. e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados; 
3.  e venham assim os tempos de refrigério pela presença do Senhor. (At.3:19).

     Observe que At. 2:38 e 3:19, dizem a mesma coisa com palavras diferentes. É como se a pergunta de 2:37 estivesse implícita em 3:19. Mas vamos continuar a questão da pergunta. Em At.16:30, o carcereiro pergunta a Paulo e Silas: “SENHORES, QUE É NECESSÁRIO QUE EU FAÇA PARA ME SALVAR?” Pela lógica, a resposta de Paulo e Silas deveria ter sido a mesma de Pedro em 2:38 e 3:19, mas não foi. Eles disseram: “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo, tu e a tua casa.” (At.16:31). Podemos dizer, então, que crer no Senhor Jesus Cristo significa tudo o que Pedro disse em Atos 2:38 e 3:19. Paulo e Silas disseram de maneira genérica, e Pedro disse de forma específica.  Um de forma abreviada, outro de forma distendida. Mas vamos observar a questão da pergunta. Em At. 9, quando Saulo é abordado pelo Cristo ressuscitado, no caminho de Damasco, Saulo pergunta: “SENHOR, QUE QUERES QUE FAÇA?” Pela lógica,  Jesus deveria ter dito a ele o mesmo que Pedro em 2:38 e 3:19, ou, pelo menos, o que Paulo e Silas disseram ao carcereiro, em 16:31. Mas não foi o que ele fez.  Ele disse: “Levanta-te, e entra na cidade; e lá te será dito o que te convém fazer.” (At.9:6). Sabemos que Jesus chamou Ananias, e o mandou ao encontro de Saulo. Não sabemos tudo o que Ananias disse a Saulo, mas pode ter sido o mesmo que Pedro disse em 2:38 e 3:19, pois em At.  22:16, está registrado que Ananias disse: “E agora, por que te demoras? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor.” Parece um reflexo de At. 2:38 e 3:19. 2:38 fala de perdoar os pecados; 3:19 fala de apagar os pecados; e 22:16 fala de lavar os pecados. Tanto em 2:38 quanto em 22:16 isso é feito por meio do batismo. E em 3:19, o batismo está implícito. Em Hebreus 6:1,2 onde o autor enumera seis doutrinas elementares da vida cristã, ele começa com:

1.       Arrependimento de obras mortas;    
2. Fé em Deus;    
3. A doutrina dos batismos;  
4. E da imposição de mãos. 

Essas são as doutrinas iniciais, pois ressurreição dos mortos e juízo eterno, só acontecerão no final. Mas para chegar nessas duas finais, a pessoa precisa entrar no caminho por meio dessas quatro iniciais.

           Mas, retornando à questão da pergunta sobre a salvação, em I Pe. 3:15, Pedro escreve: “Antes santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações; e estai sempre preparados para RESPONDER com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós.” Devemos refletir nessa repetição da pergunta que é feita com respeito a salvação. A propósito, algum crente colocou uma faixa numa das ruas da cidade dizendo “CRISTO É A RESPOSTA”.  E alguém escreveu em baixo jocosamente “SIM, MAS QUAL É A PERGUNTA?” E Provérbio 18:13 diz “Responder antes de ouvir, é estultícia e vergonha.” Tem muito crente querendo responder ao descrente, sobre a salvação, sem que este lhe tenha perguntado. Mas para perguntar, os de fora têm de ver algo diferente no crente. A multidão viu algo diferente em Pedro, antes de perguntar sobre a salvação; o carcereiro viu algo diferente em Paulo e Silas, antes de perguntar; Saulo viu algo diferente em Jesus, antes de perguntar. Eles têm de ver algo diferente em nós, antes de perguntar. Será isto: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” (Jo. 13:35).

     Em Marcos 16:15,16, Jesus diz: “Ide por todo o mundo, pregai a Evangelho a toda a criatura. Quem crer e for batizado, será salvo; mas quem não crê será condenado.” O perdão dos pecados vem depois do batismo, de acordo com At. 2:38; 3:19; e 22:16. E ainda tem gente que pergunta se pode ser salvo sem se batizar. É o mesmo que perguntar se pode ser salvo sem ter os pecados perdoados. Mas alguém dirá “e o ladrão na cruz?” Pode esquecer esse argumento, pois a Grande Comissão foi dada por Jesus depois da sua ressurreição, depois que Ele recebeu toda a autoridade nos céus e na terra. Como as pessoas foram salvas antes de Pentecoste, não vem ao caso, pois como disse o cabeçalho deste artigo, devemos somente obedecer ao que Jesus mandou. Mas observe que tanto em Atos 2:38 quanto em 3:19 fala do recebimento do Espírito Santo, depois do Batismo.

Em 2:38 “e recebereis o dom do Espírito Santo”.  E em 3:19 “E venham assim os tempos do refrigério pela presença do Senhor.” E ainda em At.9:17, Ananias diz a Saulo que Jesus o enviou a ele “para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo.” A sequência se impõe. Crer em Jesus significa: 1. Arrependimento; 2. Batismo  em nome de Jesus para perdão dos pecados;   3. Recebimento do Espírito Santo ou batismo no Espírito Santo. Em João 3:3 Jesus diz que quem não nascer de novo (regeneração) não pode ver o reino de Deus, e no v.5 ele diz que quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. Durante muito tempo fui ensinado que o nascimento da água era o nascimento da Palavra de Deus, como Tiago ensina (outro contexto). Depois de muito tempo percebi que o nascimento da água era o batismo nas águas, pois está mais de acordo com o contexto imediato. Talvez a dificuldade de reconhecer isto se deva à teologia anti-católica que foi adotada por seguimentos evangélicos durante muito tempo. Mas tem coerência aqui, pois o nascimento da água é o batismo nas águas, naturalmente precedido de arrependimento, e seguido do recebimento ou batismo no Espírito Santo. O problema da igreja evangélica, é que quando a pessoa levanta a mão em um culto evangelístico, pensa-se que ela creu, e que, portanto, também foi batizada no Espírito Santo. É certo que o N.T. diz que a pessoa recebe o Espírito quando crer. (Ef.1:13). Mas é errado pensar que ela crê quando levanta a mão.  É crer com o coração –Rm.10:9,10- e lembre o que Deus disse ao profeta Samuel “o homem vê o que  está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.” (ISm.16:7).  Nós podemos ver o levantar de mão, podemos ver a pessoa se batizar, mas o coração é enganoso. Só Deus pode ver o que está dentro dele. Quando a pessoa, de fato crê, Deus lhe dá o espírito Santo. Lembre também que crer é obedecer.(Hb.5:9).

Normalmente, o batismo é o primeiro ato de obediência. Digo normalmente, porque em Atos 10:44, os gentios receberam o Espírito Santo antes de serem batizados. É uma exceção, pois a norma é Atos 2:38, e se justifica pelo contexto. E em Atos 8:1-17, os samaritanos foram batizados nas águas, mas só receberam o Espírito Santo depois que os apóstolos Pedro e João oraram por eles, e lhes impuseram as mãos. Mas a ordem da salvação é; 1. Arrependimento;  2. Batismo em nome  de Jesus Cristo, para perdão dos pecados;  3. Recebimento ou batismo no Espírito Santo. Creio que o Espírito Santo atua na pessoa, do lado de fora, dando-lhe luz para que ela possa usar o seu livre-arbítrio, e se arrependa, e depois seja batizada. Deus toma a iniciativa dando a iluminação, mas compete à pessoa se submeter, é uma decisão dela, tanto o arrependimento, quanto ao batismo nas águas, e seguir procurando obedecer a Deus. Mas o batismo no Espírito Santo é Deus quem decide quando dá. Na verdade é Jesus quem batiza no Espírito Santo, pois só Ele pode ver o coração, e o nível de fé e obediência. Mas o crente pode orar, pedindo. Também pode receber a imposição de mãos dos  líderes cheios do Espírito Santo, para receber, como vemos várias vezes no livro de Atos.

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