segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O DIVÓRCIO E A BÍBLIA


Vamos considerar este assunto, começando pelo livro do profeta Malaquias, procurando colocá-lo no seu devido contexto. Malaquias disse três coisas, basicamente: 
1. “Eu odeio o divórcio” (Ml.2:16); 2. “Judá tem sido infiel. Uma abominação foi cometida em Israel e em Jerusalém; porque Judá profanou o santuário do Senhor, o qual ele ama, e se casou com a filha de um deus estrangeiro” (Ml. 2:11); 3. “Porque o Senhor foi testemunha entre ti e a mulher da tua mocidade, com a qual tu foste desleal, sendo ela a tua companheira, e a mulher da tua aliança” (Ml. 2:14). 
O que Deus disse foi que Israel cometeu dois pecados: casou com a filha de um deus estranho, e foi desleal nesta aliança de casamento. E Deus diz “Eu odeio o divórcio”. Consideradas fora do seu contexto, estas palavras parecem dizer uma coisa, mas no seu devido contexto, elas dizem outra. Deus é soberano, mas é justo. 

O contexto destas palavras de Malaquias são os livros de Esdras e Neemias. Apesar de Esdras e Neemias estarem longe de Malaquias dentro da Bíblia, na cronologia bíblica estão no mesmo contexto. O tempo envolvido em Esdras e Neemias é de 538 a 430 a.C. , e Malaquias foi escrito em 430 a.C., aproximadamente. Na lei de Moisés Deus proibiu o povo de Israel, com quem tinha aliança, casar com os cananeus, que eram idólatras. “não realizarás casamento com elas (as nações idólatras, pagães); não darás tuas filhas a seus filhos, e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois eram fariam teus filhos se desviar de mim para cultuar outros deuses; e a ira do Senhor se acenderia contra vós, e depressa vos destruiria.” (Dt. 7:3,4). Quando Esdras voltou do cativeiro babilônico, foi informado que muitos homens de Israel haviam casado com mulheres estrangeiras. “Terminado tudo isso, os líderes vieram falar comigo: O povo de Israel, inclusive os sacerdotes e os levitas, não se separaram dos povos destas terras, das abominações dos cananeus...Eles e seus filhos se casaram com as filhas desses povos e com eles misturaram a semente santa. E os líderes e magistrados foram os primeiros nesta transgressão.” (Ed. 9:1,2). Depois de se humilharem diante de Deus, um dos líderes sugeriu a Esdras que deveriam mandar as mulheres estrangeiras embora. “Então Secanias...dirigiu-se a Esdras, dizendo: Temos sido infiéis para com o nosso Deus quando casamos com mulheres estrangeiras dentre os povos da terra. Mas, mesmo assim, ainda há esperança para Israel. Façamos agora uma aliança com o nosso Deus, de que mandaremos embora todas as mulheres e os seus filhos, conforme o conselho do meu senhor e dos que tremem diante dos mandamentos do nosso Deus. Que isto seja feito de acordo com a lei...Então Esdras se levantou e fez com que os sacerdotes principais, os levitas e todo o povo de Israel jurasse que fariam conforme essa palavra. E eles juraram.” (Ed. 10:1-5). Este é o contexto de Malaquias. Quando Deus disse que eles tinham casado com a filha de um deus estanho, era porque eles tinham casado com mulheres idólatras, pagãs, cananéias. Tinham transgredido a lei de Deus. Agora eles cometeram outro pecado, mandando embora as mulheres com quem tinham feito aliança de casamento. Mas o Deus que obrigou Israel a cumprir a aliança que Josué fez com os gibeonitas, mesmo sendo enganado, permitiria essas quebra de aliança? (Js. 9; II Sm.21). Foste desleal para com a mulher da tua mocidade, era o divórcio injusto que cometeram contra a mulher e os filhos. Deus não permitiria isto. Deus odeia o divórcio, mas Deus é justo.

Vamos ver o que diz o Novo Testamento sobre o assunto. Mateus 5:32 é o primeiro texto. “Também foi dito: Quem se divorciar de sua mulher, dei-lhe documento de divórcio. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se divorciar de sua mulher, a não ser por causa de infidelidade (pornéia), torna-a adúltera (moikéia); e quem se casa com a divorciada comete adultério (moikéia).” O que Jesus diz é o seguinte: não importa o que vocês pensem sobre o que diz o Antigo Testamento. O que eu digo agora é o que vai valer daqui pra frente. E o que eu digo é que agora o único motivo para o homem se divorciar da mulher é em caso de pornéia (adultério, prostituição, homossexualismo, bestialidade, etc.), pois se um homem se divorciar da mulher por outro motivo, a induz a ser adúltera, se outro homem se deitar com ela, que, no caso também comete adultério, pois o vínculo da aliança de casamento ainda existe. Observe que até aqui, Jesus não falou nada sobre como esse casamento aconteceu, nem se o homem casou de novo ou não. Nesse caso, o homem que se divorciar de sua mulher, mesmo que não case de novo, comete o pecado de induzir a mulher ao adultério, embora ele mesmo não cometa o pecado de adultério. O pecado dele seria indução ao adultério.

O segundo texto do Novo Testamento é Mateus 19:1-12. Vamos nos concentrar no versículo 9, que parece ser o mesmo de 5:32, mas não é. “Mas eu vos digo que aquele que se divorciar de sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, e se casar com outra, comete adultério, e quem casar com a divorciada comete adultério.” É a mesma situação, mas um pouco diferente. Os fariseus perguntaram a Jesus se era lícito se divorciar da mulher por qualquer motivo. Jesus respondeu que não, e mantém a mesma posição de 5:32, de que o único motivo para se divorciar da mulher era por causa de pornéia (adultério, prostituição, homossexualismo, bestialidade, etc.). Mas neste caso, Jesus vai mais a frente, e diz que o homem que se divorciar de sua mulher, fora de pornéia, e casar com outra, comete adultério. Neste caso, de um segundo  casamento, depois de um divórcio injusto ou ilegal, o homem comete dois pecados: adultério próprio,e indução ao adultério da mulher. Por que Jesus deu autorização para se divorciar, em caso de pornéia (adultério)? A resposta está em Jr. 3:8 que diz: “Ela (Judá) viu que, por causa de tudo isso, porque a rebelde Israel cometeu adultério, eu a mandei embora, e lhe dei sua carta de divórcio. Porém sua irmã, a infiel Judá, não temeu e também se entregou à prostituição.” Neste caso, como em Mt. 5:32 e 19:9, as palavras adultério e prostituição, são sinônimas. Deus tinha duas mulheres, Israel e Judá. Israel adulterou e Deus se divorciou dela. E esse divórcio não foi por causa de dureza de coração de Deus, como em Mt.19, mas porque é um princípio espiritual. Judá viu que Deus tinha se divorciado de Israel, por causa de adultério, mas não temeu, e também se entregou à prostituição. O mundo físico é uma cópia do mundo espiritual. 

O adultério de Israel e Judá, era sua adoração aos ídolos mudos, e aos deuses. Mas sinaliza para o mundo físico, mostrando que o relacionamento de um homem e uma mulher, é uma  cópia do relacionamento de  Deus com o seu povo. Então, o sentido de pornéia em Mt. 5:32  e 19:9, é adultério. Deus odeia o divórcio, mas não pode deixar de concedê-lo em caso de adultério. Mas, alto lá. Ainda não terminou. Em Lc. 17:3,4 “Tende cuidado de vós mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.” Muito bem, se o marido ou a mulher, adulterar, repreenda-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Mas pastor, meu marido ou minha mulher é uma pessoa cínica, toda semana adultera e toda semana se arrepende. Eu tenho de perdoar? Se ele ou ela se arrepender, sim, tem de perdoar. Jesus disse “Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier a ti, dizendo: estou arrependido; tu lhe perdoarás.” 

Pedro perguntou a Jesus: “Senhor, até quantas vezes deverei perdoar meu irmão que pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus lhe respondeu: Não te digo que até sete vezes; mas até setenta vezes sete.” (Mt.18:21,22). Na sequência, Jesus contou a parábola do credor incompassivo, em que depois de perdoado pelo seu senhor, um homem negou perdão ao seu conservo. “Então caindo a seus pés, o seu companheiro lhe suplicava: tem paciência comigo, que te pagarei. Ele, porém, não quis; antes mandou colocá-lo na prisão, até que pagasse a dívida.”  Já sabemos que quando o senhor daquele homem soube, cancelou o perdão que já lhe tinha dado, e entregou aos carrascos. (Mt.18:23-35). Vamos imaginar que a dívida do conservo, era o adultério de sua mulher, que, arrependida, lhe pedia perdão. Por ele não ter perdoado, perdeu o perdão, que já lhe tinha sido dado, mediante o seu arrependimento. Já entendi porque Jesus mandou perdoar o pecado do irmão, que parece ser cínico, pois peca repetidamente. “Não entendo o que faço, pois não pratico o que quero, e sim o que odeio. E se faço o que não quero, concordo com a lei que é boa. Agora, porém, não sou mais eu quem faz isso, mas o pecado que habita em mim.” (Rm. 7:15-17). Jesus disse “todo aquele que comete pecado, é escravo do pecado” (Jo.8:34). E também “porque ele (Jesus) salvará o seu povo dos seus pecados.” (Mt.1:21). É por isso que Jesus disse que devemos perdoar setenta vezes sete. O irmão pode estar cativo de um pecado, e, portanto, de demônios. Mas, veja que ele também disse “Mesmo se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes vier a ti, dizendo: Estou arrependido; tu lhe perdoarás.” (Lc.17:4). É preciso confessar o pecado, e se arrepender. Esse comportamento revela um desejo sincero de se libertar. Por isso deve ser perdoado. Mas se a pessoa não confessar, e nem se arrepender, a história é outra, pois está escrito: “Quem encobre as suas transgressões jamais prosperará, mas quem as confessa e as abandona alcançará misericórdia.” (28:13).

Nenhum comentário: