sexta-feira, 4 de julho de 2014

O PECADO DE JÓ


Desde a minha conversão, tenho ouvido explicações ou justificativas para o fato de Deus ter  permitido que Satanás afligisse Jó. Diziam que Jó tinha o pecado da falta de fé, baseados no que ele disse: “Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu. Nunca estive descansado, nem sosseguei, mas veio sobre mim a perturbação.” (Jó 3:25,26). Mas essa explicação nunca me pareceu convincente. Outros diziam que Deus afligiu Jó, para que os que viessem depois dele, as futuras gerações, pudessem ser consolados no meio dos sofrimentos, a exemplo dele. Mas isto nunca me pareceu convincente, nem justo, e não pareciam fazer justiça ao caráter de Deus.  

Porém, mais recentemente, me ocorreu que a verdade é bem outra. Jó tinha um pecado sim, e era um pecado grave, pelo menos aos olhos de Deus, embora pareça não o ser aos olhos da igreja de hoje. Hoje,  a igreja, ou parte dela, parece adotar a psicologia do sucesso, ou a filosofia, ou a cultura do sucesso, que diz que os fins justificam os meios. Mas será essa a cosmovisão  Bíblica, ou de Deus? Pelos padrões de hoje, Jó seria o pastor de uma mega igreja. Afinal ele tinha “sete mil ovelhas”.  A totalidade dos animais de Jó, era de onze mil e quinhentos. Simbolicamente falando, esse era o tamanho do seu rebanho. Os dez filhos de Jó, são um simbolismo dos  discípulos. Lembre da parábola das dez virgens (Mt.25:1-13), dos dez moços de Davi (I Sm.25:5), das palavras de Elcana a Ana, sua esposa estéril, “Não te sou eu melhor do dez filhos?” (I Sm. 1:8b). Jó era, sem dúvida, um pastor bem-sucedido, pelos padrões de hoje. Além de ter um mega rebanho, ou uma mega igreja, Jó era íntegro de caráter. Cair em pecado sexual? Nem pensar. Jó não faria isso, pois ele mesmo disse “Fiz pacto com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem?” (Jó 31:1). Jó também não tinha fraqueza por dinheiro, pois Satanás o acusou disto mesmo, de servir a Deus em troca de prosperidade. Depois que a prosperidade lhe foi tirada, ele disse “Nu saí do ventre de minha mãe, e nu tornarei para lá. O Senhor deu, e o Senhor tirou; bendito seja o nome do Senhor.” (Jó 1:21).  “ Era homem íntegro e reto, que temia a Deus e se desviava do mal.” (Jó 1:1). Falta de integridade não era problema para Jó. 

Cuidado aqui, pois hoje, em face do mal caratismo de alguns (ou seria de muitos?), pastores e igrejas têm buscado o aperfeiçoamento do caráter, como sendo a panacéia espiritual de hoje. De certo modo está correto, mas não é tudo. Paulo diz “segundo a justiça que há na lei, (fui) irrepreensível.”(Fl. 3:6).  Mas era um fariseu perseguidor da igreja. Jesus era íntegro e honesto, mas, além disto, era “manso e humilde de coração”. (Mt.11:29). Observe os adjetivos aplicados a Jó. Íntegro, reto, temente a Deus, se desviava do mal. Mas não diz que ele era justo. Porque? Porque essas qualidades são de alguém que se justiçava pela lei, pelo merecimento, era justiça de fora para dentro, era a justiça dos fariseus. Esse tipo de justiça gera orgulho. Foi desse tipo de justiça que Jesus falou “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” Veja o que diz Jó 32:1 “Então aqueles três homens cessaram de responder a Jó; PORQUE ERA JUSTO AOS SEUS PRÓPRIOS OLHOS.” Eis o pecado de Jó. Justiça própria. 

Justiça própria gera orgulho. O pecado de Jó era orgulho. Dele é dito “DE MANEIRA QUE ESTE HOMEM ERA MAIOR DO QUE TODOS OS DO ORIENTE”. Jó era o maior de todos e sabia disto. Muito tempo depois, os discípulos de Jesus queriam saber quem era o maior. “Naquela mesma hora chegaram os discípulos ao pé de Jesus, dizendo: QUEM É O MAIOR NO REINO DOS CÉUS? E Jesus, chamando um menino, o pôs no meio deles, e disse...aquele que se tornar humilde como este menino, esse é o maior  no reino dos céus.” (Mt.18:1,2,4). Na escala de valores do reino de Deus, a humildade está no topo. Mas hoje se perguntarmos quem  é o maior, a resposta certamente será “quem tem a maior igreja,  quem tem o maior número de discípulos”. Aliás, já ouvi, mais de uma vez,  que se alguém quiser discutir com você, pergunte quantos discípulos ou quantas células ele tem. Mas será que isto está certo?

Não será isto orgulho? Afinal, quantidade tem valor diante de Deus, mas não mais do que a humildade. Quem é o maior, corre grande perigo, como Jó, se não cultivar a humildade. A maneira de tratar os pequenos diz muito. Nem todos os que são pequenos, são infiéis, preguiçosos, ou incompetentes. É bom lembrar do rei da assíria, que Deus usou para abater nações. Ele pensava que a virtude era dele, que o poder era dele, e não percebia que Deus o estava usando, que ele era apenas um instrumento nas mãos de Deus. Deus disse “Por isso acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no Monte de Sião e em Jerusalém, então visitarei o fruto do arrogante coração do rei da assíria e a pompa da altivez dos seus olhos...Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele? Ou presumirá a serra contra o que puxa por ela?” (Is.10:12,15).

Mas, prosseguindo no argumento de que o pecado de Jó era o orgulho, veja o que diz Jó 41:34, a respeito do Leviatan: “Ele vê tudo o que é alto; é rei sobre todos os filhos da soberba.”É possível que o Leviatan seja o próprio Satanás, como parece dizer Isaías 27:1 “Naquele dia o Senhor castigará com a sua dura espada grande e forte, a Leviatan, a serpente veloz, e a Leviatan, a serpente tortuosa, e matará o dragão que está no mar.” Em Apocalipse Satanás é chamado tanto de dragão, como de serpente (Ap.12:9). Estaria o Leviatan influenciando Jó, instilando nele o seu orgulho, já que “é rei sobre todos os filhos da soberba”? É possível e provável. Mas voltemos a Jó 32:1, onde diz ”PORQUE JÓ ERA JUSTO AOS SEUS PRÓPRIOS OLHOS.”  Em Lc. 18:9 “E disse também esta parábola A UNS QUE CONFIAVAM EM SI MESMOS, CRENDO QUE ERAM JUSTOS,  e desprezavam os outros.” Percebi que a atitude do fariseus era muito parecida com a de Jó. O fariseu dizia “Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos,  e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes por semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo.” (Lc.18:9-14). Não é por acaso que Jesus disse que o publicano desceu JUSTIFICADO para a sua casa e não e fariseu. Jó era como este fariseu. Será que nós também não somos?

No livro de Jó é dito que os sete filhos de viviam em banquetes, e convidavam sua três irmãs. O simbolismo é que o estilo de vida dos filhos de Jó, revelava sua condição espiritual. Viviam em banquetes. Jesus disse que nos dias de Noé “comiam e bebiam, casavam  e davam-se em casamento” e nos dias de Ló “comiam e bebiam, compravam e vendiam, plantavam e edificavam”, (Lc. 17:26-28). Ou seja, um estilo de vida voltado para os valores deste mundo. Qualquer semelhança com os dias atuais, não é mera coincidência. Jesus também disse “E olhai por vós, não aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguês, e dos cuidados da vida, e venha sobre vós de improviso aquele dia.” Tanto os dias de Noé, quanto os dias de Ló, quanto os dias do filho do homem, precedem juízos de Deus. Assim também, os dias de Jó e seus filhos precedeu um juízo de Deus. Os dez filhos foram mortos por causa do estilo de vida carnal que levavam. 

Os discípulos de hoje terão o mesmo destino? Se adotarem o mesmo estilo de vida...Mas, a conclusão é que um líder orgulhoso, gera um rebanho carnal. O pastor orgulhoso Jó, gerou filhos carnais, que foram mortos por Satanás. Mas esta história tem um final feliz, pois, depois que Jó se tornou humilde, Deus lhe deu um rebanho que tinha o dobro de animais. Como sabemos que Jó se tornou humilde? Veja isto: “Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêem os meus olhos. Pelo que me abomino, e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42:5,6). Deus deu a Jó um rebanho de vinte e três mil  animais, no lugar dos onze mil e quinhentos, que tinha no princípio. Deus também deu mais sete filhos e três filhas. Há uma novidade nos filhos de Jó, que não havia nos primeiros dez. Aqui é dito que “em toda a terra não se acharam  mulheres tão formosas como as filhas de Jó.” A beleza física das filhas de Jó, representa a beleza espiritual, o estilo de vida santo, diferente do estilo de vida carnal dos primeiros filhos. A conclusão é que um pastor humilde, gera um rebanho santo. 

Um comentário:

Unknown disse...

Eu, já havia lido sobre tem sentido pois nossa justiça são como trapos de imundícia diante Deus pois somos justificados pela fé em Cristo.